
As Mãos.
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
- Estrutura interna.
1ª Estrofe – O sujeito poético afirma que as mãos têm poder para fazer o Bem e o Mal - (paz ≠ guerra; faz ≠ desfaz).
2ª Estrofe – declara que as mãos têm força para trabalhar no mar e na terra - (“com as mãos se rasga o mar e se lavra”).
3ª Estrofe – O sujeito poético diz que as mãos são a esperança - (“verdes harpas”).
4ª Estrofe – o sujeito poético faz um apelo à nossa consciência e ao bom uso que damos às nossas mãos, comprovando que sem as nossas mãos não alcançamos a liberdade - (“nas tuas mãos começa a liberdade”).
- Divisão do poema.
O poema pode dividir-se em duas partes. Estas duas partes são:
. 1ª parte: constituída pelas duas quadras e pelo primeiro terceto- o sujeito poético fala sobre o poder que as mãos possuem.
. 2ª parte: constituída pelo último terceto, em que o sujeito poético apela à responsabilização ao uso que damos às nossas mãos, afirmando que são nelas que começa a nossa liberdade.
Ser ou não ser. Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca. Se os novos partem e ficam só os velhos e se do sangue as mãos trazem a marca se os fantasmas regressam e há homens de joelhos qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca. Apodreceu o sol dentro de nós apodreceu o vento em nossos braços. Porque há sombras na sombra dos teus passos há silêncios de morte em cada voz. Ofélia-Pátria jaz branca de amor. Entre salgueiros passa flutuando. E anda Hamlet em nós por ela perguntando entre ser e não ser firmeza indecisão. Até quando? Até quando? Já de esperar se desespera. E o tempo foge e mais do que a esperança leva o puro ardor. Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje. Ah se não ser é submissão ser é revolta. Se a Dinamarca é para nós uma prisão e Elsenor se tornou a capital da dor ser é roubar à dor as próprias armas e com elas vencer estes fantasmas que andam à solta em Elsenor.
Neste poema é recorrente a ideia da submissão a um poder totalitário e opressivo. Cria uma sugestão de um clima desagradável e apodrecido que dominou o reino. O sujeito poético passa a enumerar as circunstâncias que contribuíram para a progressiva derrocada nas três primeiras estrofes. De seguida questiona-se e questiona-nos sobre a necessidade de manter essa situação para, na última estrofe, explorar as duas possibilidades sugeridas pelo título.
O poema acaba por funcionar como uma sobreposição de dois planos: o distante “Reino da Dinamarca” e o momento presente do sujeito poético plural. Os traços negativos da Dinamarca são, então, projetados no espaço do sujeito poético que, mais do que rever-se nessas circunstâncias, as atualiza ao substituir a expressão “os fantasmas” por “estes fantasmas”, dando corpo a estas sombras, retirando-as do campo abstrato em que se incluíam no início.
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