quinta-feira, 25 de maio de 2017

Manuel Alegre.

Resultado de imagem para manuel alegreManuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redactor da revista Vértice e colaborador de Via Latina. As suas temáticas são: liberdade, democracia, Portugal e direitos.


As Mãos.
Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.


De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

  • Estrutura interna.

1ª Estrofe – O sujeito poético afirma que as mãos têm poder para fazer o Bem e o Mal - (paz ≠ guerra; faz ≠ desfaz).
2ª Estrofe –  declara que as mãos têm força para trabalhar no mar e na terra - (“com as mãos se rasga o mar e se lavra”).
3ª Estrofe – O sujeito poético diz que as mãos são a esperança  - (“verdes harpas”).
 4ª Estrofe –  o sujeito poético faz um apelo à nossa consciência e ao bom uso que damos às nossas mãos, comprovando que sem as nossas mãos não alcançamos a liberdade  - (“nas tuas mãos começa a liberdade”).
  • Divisão do poema.

O poema pode dividir-se em duas partes. Estas duas partes são:
. 1ª parte: constituída pelas duas quadras e pelo primeiro terceto- o sujeito poético fala sobre o poder que as mãos possuem.
. 2ª parte: constituída pelo último terceto, em que o sujeito poético apela à responsabilização ao uso que damos às nossas mãos, afirmando que são nelas que começa a nossa liberdade.

Resultado de imagem para manuel alegre caricatura
Ser ou não ser.

Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.

Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.

Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.

Até quando? Até quando?

Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.

Neste poema é recorrente a ideia da submissão a um poder totalitário e opressivo. Cria uma sugestão de um clima desagradável e apodrecido que dominou o reino. O sujeito poético passa a enumerar as circunstâncias que contribuíram para a progressiva derrocada nas três primeiras estrofes. De seguida questiona-se e questiona-nos sobre a necessidade de manter essa situação para, na última estrofe, explorar as duas possibilidades sugeridas pelo título.
O poema acaba por funcionar como uma sobreposição de dois planos: o distante “Reino da Dinamarca” e o momento presente do sujeito poético plural. Os traços negativos da Dinamarca são, então, projetados no espaço do sujeito poético que, mais do que rever-se nessas circunstâncias, as atualiza ao substituir a expressão “os fantasmas” por “estes fantasmas”, dando corpo a estas sombras, retirando-as do campo abstrato em que se incluíam no início.

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