O auto de Gil Vincente é representado na corte de D. Manuel I por ocasião do casamento de D. Betariz com o duque de Saboia surge, portanto, como o centro estruturador da ação, à volta do qual se constrói a intriga dos amores de Bernardim e da Infanta, ciumento aglutinador dos vários conflitos que compõem a ação. O drama de Garrett é a própria representação do auto de Gil Vicente, tornando-se assim o teatro metáfora da própria vida. Garrett tenta ressuscitar o teatro português: reaproximá-lo, povoá-lo de factos reais e de pessoas reais, dotadas de sentimentos comuns, como o amor, a paixão, o ciúme, a suspeita, o orgulho... É o demiurgo, o homem que vive para a sua arte, portador da pureza da única classe social que, segundo alguns românticos, está ainda próxima da natureza: o povo. O amor surge como valor supremo e móbil determinante da conduta das personagens centrais. A função pedagógica do drama, sabiamente veiculada no doseamento do dramático e do burlesco, do apelo ao ideal e do chamamento à realidade num quadro referencialmente desligado da própria realidade contemporânea mas saturado de símbolos que remetem para essa mesma realidade.
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