quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

De Tarde.

Resultado de imagem para claude monet campo di papaveriNaquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.


Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpura a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

  • Análise do poema:
Edouard Manet - Luncheon on the Grass - Google Art Project.jpgÉ a representação impressionista de um cenário campestre em que se movem figuras que participam numa merenda, com especial destaque para o ''ramalhete rubro de papoulas'' que emerge do decote rendilhado do vestido de uma rapariga e contrasta, em forma e cor com a brancura dos seus seios, como ''duas roulas''. O sujeito poético estabeleceu a analogia entre o texto e uma ''aguarela'' que faz lembrar o celebre quadro Le Déjeuner sur l’herbe de Édouard Manet. Imediatamente nos impressiona a força das cores azul e vermelha, dos tons de amarelo ou dourado e da subentendida cor branca da renda e dos seios. Porém, o ponto central do quadro é a mancha vermelha (cor quente) do ramalhete das papoulas, cuja coloração no vértice do decote, entre rendas ladeado pelos seios assume conotações de alguma sensualidade.
O poema pode dividir-se em 3 partes lógicas: a primeira quadra corresponde a uma introdução, que nos apresenta o texto como uma aguarela (palavra chave) representativa de um ''pic-nic de burguesas'' em que houve ''uma coisa simplesmente bela''; a segunda e terceira quadras descrevem o pic-nic; finalmente a quarta estrofe iniciada pela conjunção coordenativa adversativa ''mas'' corresponde á conclusão, na qual o sujeito poético faz referência à memória mais grata daquele acontecimento ''o supremo encanto'' que ficou daquela merenda: '' o ramalhete rubro das papoulas''. 

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