O auto de Gil Vincente é representado na corte de D. Manuel I por ocasião do casamento de D. Betariz com o duque de Saboia surge, portanto, como o centro estruturador da ação, à volta do qual se constrói a intriga dos amores de Bernardim e da Infanta, ciumento aglutinador dos vários conflitos que compõem a ação. O drama de Garrett é a própria representação do auto de Gil Vicente, tornando-se assim o teatro metáfora da própria vida. Garrett tenta ressuscitar o teatro português: reaproximá-lo, povoá-lo de factos reais e de pessoas reais, dotadas de sentimentos comuns, como o amor, a paixão, o ciúme, a suspeita, o orgulho... É o demiurgo, o homem que vive para a sua arte, portador da pureza da única classe social que, segundo alguns românticos, está ainda próxima da natureza: o povo. O amor surge como valor supremo e móbil determinante da conduta das personagens centrais. A função pedagógica do drama, sabiamente veiculada no doseamento do dramático e do burlesco, do apelo ao ideal e do chamamento à realidade num quadro referencialmente desligado da própria realidade contemporânea mas saturado de símbolos que remetem para essa mesma realidade.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
Camilo Pessanha.
Camilo de Almeida Pessanha nasceu como filho legítimo de
João António de Almeida Pessanha, um estudante de direito de aristocracia, e
Maria Espírito Santo Duarte Nudes Pereira, sua empregada, em 7 de setembro de
1867,na Sé Nova, Coimbra, Portugal. O casal teria mais quatro filhos.
Camilo Pessanha criou uma arte meticulosa no tratamento
musical e evocativo do verso que muito lembra a de Verlaine. Os seus sonetos,
sobretudo, são lançados com um cuidado extremo em eliminar quaisquer inflexões
previsíveis da expressão sentimental. Não se trata do amor, da esperança, da
desilusão, da dor, do desejo, dos grandes românticos encarecidos.
A poesia de
Camilo Pessanha não resiste apenas à crítica biografante, mas também ao
estreito historicismo literário.
Camilo Pessanha foi o poeta mais autenticamente Simbolista de Portugal, e
um grande inovador da poética de seu país, cuja influência se estende até os
modernistas da geração Orpheu, sobretudo em Fernando Pessoa. Afastou-se do
discursivismo neoromântico dos poetas do seu tempo (Antônio Nobre, Augusto Gil,
Afonso Lopes Vieira) e inovou a escrita poética, incorporando procedimentos
próximos aos do decadentismo de Verlaine, em especial no que se refere à
aproximação entre a poesia e a música.
Apresentando uma visão extremamente pessimista de
mundo, a obra poética de Camilo Pessanha sugere uma visão de mundo sobretudo
marcada pela ótica da ilusão e da dor.
Simbolismo
O Simbolismo é um movimento literário que surge em finais do século XIX e que tem por base o conceito de símbolo. É uma corrente que reage contra o positivismo científico, o materialismo, a disciplina e o realismo parnasianos. Procura a espiritualidade, a transcendência física, a imaginação, proclama o ideal (parnasiano) da arte pela arte e afirma-se sobretudo na poesia (a poesia pela poesia). A poesia de Camilo Pessanha reúne os aspetos mais marcantes da escola simbolista. Aliado ao conceito de símbolo, encontramos a arte da sugestão que em Pessanha se traduz na utilização da técnica impressionista, na imagem visual e sonora, com a finalidade de sugerir sensações e convidar o leitor a interpretar estados de alma
O Simbolismo é um movimento literário que surge em finais do século XIX e que tem por base o conceito de símbolo. É uma corrente que reage contra o positivismo científico, o materialismo, a disciplina e o realismo parnasianos. Procura a espiritualidade, a transcendência física, a imaginação, proclama o ideal (parnasiano) da arte pela arte e afirma-se sobretudo na poesia (a poesia pela poesia). A poesia de Camilo Pessanha reúne os aspetos mais marcantes da escola simbolista. Aliado ao conceito de símbolo, encontramos a arte da sugestão que em Pessanha se traduz na utilização da técnica impressionista, na imagem visual e sonora, com a finalidade de sugerir sensações e convidar o leitor a interpretar estados de alma
Interrogação
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito,
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito,
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
A mulher
parece ser sobretudo uma fonte de apaziguamento, de refrigério («Procuro o teu
olhar,/ Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo», «Mas sinto‑me sorrir de ver esse sorriso/ Que me
penetra bem, como este sol de Inverno», «Passo contigo a tarde e sempre sem
receio/ Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.»), mas não inspira nem a
intenção de formar uma família («nunca pensei num lar/ Onde fosses feliz, e eu
feliz contigo.»), ou paixão lacrimosa e romântica («Por ti nunca chorei nenhum
ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.») ou desejo
sensual («Nem depois de acordar te procurei no leito/ Como a esposa sensual do
Cântico dos Cânticos.», «Eu não demoro o olhar na curva do teu seio/ Nem me
lembrei jamais de te beijar a boca.»).
Violencelo
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trémulos astros...
Soidões lacustres...
—: Lemos e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
— Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trémulos astros...
Soidões lacustres...
—: Lemos e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
— Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Este
poema tem nos movimentos do arcos sobre as suas cordas a gênese de inúmeras
imagens, notadamente as arquitetónicas, relacionadas com o sentimento de
destruição, de ruína, de desmoronamento e de fragmentação, mais das vezes
assumindo um sentido metafórico da falência e fragmentação do ser.
A música do violoncelo provoca um estado de alma
ansioso, um sentimento de misteriosa tristeza. Mas este sentimento não é dado
diretamente; é apenas sugerido por uma série de imagens e associações. Nada de
tentar encontrar objetividade no poema: o poeta não nos afirma que fica triste,
ansioso, inquieto, ao ouvir o violoncelo. Mas logo a apóstrofe «Chorai arcadas»
nos revela o carácter triste da música. O poema assenta, pois, numa intuição
associativa que liga o som grave do violoncelo ao sentimento de dor e de
mistério.
A água estabelece uma relação com Clepsidra.
Poveirinhos.
Poveirinhos! meus velhos Pescadores!
Na
Agua quisera com Vocês morar:
Trazer
o grande gorro de três cores,
Mestre
da lancha Deixem-Nos Passar!
Far-me-ia
outro, que os vossos interiores,
De
há tantos tempos, devem já estar
Calafetados
pelo breu das Dores,
Como
esses pongos em que andais no Mar!
Ó
meu Pai, não ser eu dos poveirinhos!
Não
seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mail’Irmão do «Senhor de Matosinhos!»
No
alto mar, às trovoadas, entre gritos,
Prometemos,
si
o barco fôri intieiro,
Nossa bela à Sinhora
dos Aflitos!
- Análise do poema:
O tema desta composição poética são os pescadores e o seu assunto consiste no facto do sujeito poético louvar os pescadores através da enunciação do desejo de querer ser um deles. O poema tem um tom melancólico. Os recursos expressivos aqui apresentados são: a apóstrofe (''Ó meu pai''); a metáfora (''Na água quisera com vocês morar''). Apresenta um tom coloquial e um vocabulário popular.
António Nobre.
António Pereira Nobre nasceu no Porto a 7 de agosto de 1867 e faleceu a 18 de março de 1900. É mais conhecido como António Nobre. Foi um poeta português cuja obra se insere nas correntes ultra-romântica, simbolista, decadentista e saudosista da geração finissecular do século XIX português. O poeta trouxe a
linguagem poética ao nível da fala comum, fazendo da poesia o milagre de uma
conversa à lareira. Quando pensamos nos antecedentes literários desta evolução
lírica, encontramo-los no lirismo quinhentista, no folclorismo de Gil Vicente, no
Romanceiro e no casticismo teórico e prático dos românticos.
António Nobre, apesar
da escassez do número de obras, tem de ser reconhecido, pois constitui um dos
grandes marcos da poesia do século XIX e uma referência obrigatória na
Literatura Portuguesa. É destacado pelo livro Só e as suas obras póstumas Despedidas
e O Desejado, e Primeiros
Versos. O poeta recusou a
elaboração convencional, a oratória e a linguagem elevada do simbolismo do seu
tempo, procurando dar à sua poesia um tom de coloquialidade, cheio de ritmos
livres e musicalidade, acompanhado de um cenário pictórico rico e original.
Nesta rutura com o simbolismo foi precursor da modernidade. Marcantes, ainda,
na sua obra são o pessimismo e a obsessão da morte, o fatalismo com a sua
predestinação para a infelicidade.
De Tarde.
Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpura a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpura a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
- Análise do poema:
É a representação impressionista de um cenário campestre em que se movem figuras que participam numa merenda, com especial destaque para o ''ramalhete rubro de papoulas'' que emerge do decote rendilhado do vestido de uma rapariga e contrasta, em forma e cor com a brancura dos seus seios, como ''duas roulas''. O sujeito poético estabeleceu a analogia entre o texto e uma ''aguarela'' que faz lembrar o celebre quadro Le Déjeuner sur l’herbe de Édouard Manet. Imediatamente nos impressiona a força das cores azul e vermelha, dos tons de amarelo ou dourado e da subentendida cor branca da renda e dos seios. Porém, o ponto central do quadro é a mancha vermelha (cor quente) do ramalhete das papoulas, cuja coloração no vértice do decote, entre rendas ladeado pelos seios assume conotações de alguma sensualidade.
O poema pode dividir-se em 3 partes lógicas: a primeira quadra corresponde a uma introdução, que nos apresenta o texto como uma aguarela (palavra chave) representativa de um ''pic-nic de burguesas'' em que houve ''uma coisa simplesmente bela''; a segunda e terceira quadras descrevem o pic-nic; finalmente a quarta estrofe iniciada pela conjunção coordenativa adversativa ''mas'' corresponde á conclusão, na qual o sujeito poético faz referência à memória mais grata daquele acontecimento ''o supremo encanto'' que ficou daquela merenda: '' o ramalhete rubro das papoulas''.
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
Os temas e a linguagem da poesia cesariana.
Na poesia de Cesário Verde podemos encontrar vários temas, como por exemplo:
- sentidos e sensações;
- realidade objetiva e quotidiana;
- descrição das ruas de Lisboa;
A linguagem que Cesário Verde utiliza nos seus poemas é uma linguagem coerente e comum, sem véus de retórica, exata e sensorial. Podemos dizer que Cesário Verde era o poeta das sensações e dos sentidos.
Cesário Verde e o Impressionismo.
José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa a 25 de fevereiro de 1855 e faleceu a 19 de julho de 1886 também em Lisboa. Foi um poeta português no século XX. Cesário Verde foi uma vitima da tuberculose, tal como os seus irmãos, acabou por falecer com 31 anos.
Cesário Verde tem apenas um livro chamado O Livro de Cesário Verde. É uma compilação de poemas de Cesário Verde organizados pelo seu amigo Silva Pinto que foi publicado em 1901, já depois da sua morte. Nos seus poemas Cesário Verde mostra as suas técnicas impressionistas e retrata o campo e a cidade, que são os cenários que predominam os seus poemas.
Algumas características da pintura impressionista:
Cesário Verde tem apenas um livro chamado O Livro de Cesário Verde. É uma compilação de poemas de Cesário Verde organizados pelo seu amigo Silva Pinto que foi publicado em 1901, já depois da sua morte. Nos seus poemas Cesário Verde mostra as suas técnicas impressionistas e retrata o campo e a cidade, que são os cenários que predominam os seus poemas.
- Impressionismo.
Algumas características da pintura impressionista:
- é uma pintura instantânea que se assemelha á fotografia;
- as figuras não devem ter um contorno nítido pois o desenho deixa de ser o centro do quadro, passando a ser manchas ou cores;
- as sombras devem ser luminosas e coloridas;
- o preto é uma cor pouco utilizada;
- os contrastes de luz e sombra que são diferentes dos do movimento passado;
- os pintores preferem retratar a natureza;
Alguns pintores desta época: Claude Monet, Edouard Manet, Edgar Degas.
Nox- Análise
Este poema é um soneto pois apresenta duas quadras e dois tercetos. Como o titulo indica, este soneto fala sobre a noite (Nox em latim é ''noite''). O tema deste soneto é o desejo de libertação dirigido à noite como símbolo do apaziguamento, da evasão, do inexistir.
Nas primeiras quadras o poeta invoca a noite e faz uma oposição com o dia. Nos tercetos, o poeta tenta libertar-se do mal que aparece associado com a noite que o impede de ''ver'' e de ''lutar''. Faz uma referência á "luz cruel do dia" (v.2) em que decorreram as suas lutas.
O poeta apresenta a noite como fim eterno, ou seja, a morte ("Noite sem termo, noite do Não-ser!"; v.14). Como se sente derrotado, o poeta espera que a noite eterna adormeça e que caia sobre o mundo.
Fonte: http://folhadepoesia.blogspot.com/2012/09/nox-antero-de-quental.html
Nas primeiras quadras o poeta invoca a noite e faz uma oposição com o dia. Nos tercetos, o poeta tenta libertar-se do mal que aparece associado com a noite que o impede de ''ver'' e de ''lutar''. Faz uma referência á "luz cruel do dia" (v.2) em que decorreram as suas lutas.
O poeta apresenta a noite como fim eterno, ou seja, a morte ("Noite sem termo, noite do Não-ser!"; v.14). Como se sente derrotado, o poeta espera que a noite eterna adormeça e que caia sobre o mundo.
Fonte: http://folhadepoesia.blogspot.com/2012/09/nox-antero-de-quental.html
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
Nox
Noite, vão para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...
Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos...
Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o Mundo, te esquecesses,
E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-ser!
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...
Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos...
Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o Mundo, te esquecesses,
E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-ser!
Antero de Quental, in Sonetos.
A Um Poeta- Análise.
O poema é constituído por duas quadras e dois tercetos, logo, este poema é um soneto. O termo ''poeta'' poderá remeter para a figura de um idealista, possivelmente em consonância com o espírito da época. A referência ao espírito do mundo romântico, triste e sombrio, percebe-se quando, personificando o sol, usa a metáfora em "Afugentou as larvas tumulares" (v. 6) e "Um mundo novo espera só um aceno" (v. 8). O sujeito poético faz um apelo a todos os poetas.
Na primeira quadra encontramos a passividade do poeta em relação da realidade social e politica do mundo (v.4). Na segunda quadra e no primeiro terceto surge uma antítese que confirma o que se disse na primeira quadra, Antero apela a consciência do poeta e afirma que este tem de mudar a sua atitude pois essa sua atitude está a por em causa o povo que precisa de solidariedade(vv. 9 e 10). No último terceto (chave de ouro ou chave do soneto), Antero conclui, apela a ação ( ''Ergue-te''. v.12) dando destaque á poesia utilizada como arma.
Em todo o soneto encontra-se um apelo a necessidade de agir.É em poemas como este que Antero aposta na poesia como forma de revolução.
A Um Poeta
Surge et ambula!
Tu, que dormes, espírito sereno,Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate.
Antero de Quental, Sonetos.
terça-feira, 25 de outubro de 2016
Antero Apolineo e Antero Dionisiaco: Os Dois Anteros.
Podemos dizer que existem dois Anteros, o Antero Apolineo e o Antero Dionisíaco. Esta ideia da existência de dois Anteros é uma ideia defendida por António Sérgio que tem por base a oposição dos temas escritos por Antero. Os poemas são uma expressão por um lado, de um activista defensor de ideais de renovação e, por outro, de uma ideia pessimista e negativa.
Exemplos de Antero Apolieno: o soneto "A um poeta"
Exemplo de Antero Dionisíaco: o soneto "Nox"
- Antero Apolineo;
Exemplos de Antero Apolieno: o soneto "A um poeta"
- Antero Dionisíaco;
Exemplo de Antero Dionisíaco: o soneto "Nox"
Geração de 70 e a Questão Coimbrã
- Questão Coimbrã;
As Conferencias do Casino são uma consequência da grande polémica conhecida por "Questão Coimbrã" que acontece em Coimbra, em 1865.
Trata-se da oposição ao "ultrarromântico" António Feliciano de Castilho, a propósito de um prefácio a um livro de poesia publicado em Lisboa, em 1862.
Isto provoca uma polémica entre aqueles que apoiavam os ultrarromânticos e os que apoiavam a prosa "moderna". Antero era um dos que defendia a prosa "moderna".
A Questão Coimbrã também é conhecida pela Questão de Bom Senso e Bom Gosto.
A polémica começou em Outubro de 1865, quando António Feliciano de Castilho mencionou, na carta-posfácio ao Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, a escola moderna de Coimbra e a sua poesia ininteligível, ridicularizando o aparato filosófico e os novos modelos literários de que ela se nutria, numa referência provável às teorias filosóficas e poéticas expostas nos prefácios a Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras (ambas de 1864), de Teófilo Braga, e na nota posfacial das Odes Modernas, de Antero de Quental (de julho de 1865).
- Geração de 70;
- o 1º. romantismo se limitou aos problemas nacionais
- o 2º. romantismo limitou-se a aprofundar o sentimentalismo, levado à frustração, afastando as ideias novas da arte em geral.
Fontes: http://webfoliododuarte.blogspot.pt/2016/10/questao-coimbra-geracao-de-70.html; https://pt.wikipedia.org/wiki/Gera%C3%A7%C3%A3o_de_70
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
As Conferencias do Casino Lisbonense.
Um conjunto de conferências realizadas em Lisboa em 1871 que surgiu quando das reuniões do "Cenáculo" e que teve como impulsionador Antero de Quental.
Este é o ponto mais alto da Geração de 70. Visavam abrir um debate sobre o que de mais moderno, a nível de pensamento, se vinha fazendo lá fora. Aproximar Portugal da Europa era o objectivo máximo, anunciado, aliás, no respectivo programa. Das várias conferências previstas, só se realizaram cinco, pois a partir da sexta, as conferências foram proibidas pelo governo, sob a alegação que elas atacavam "a religião e as instituições políticas do Estado". Esta proibição levantou uma enorme onda de protestos de novo encabeçada por Antero de Quental. Este espírito revolucionário e positivista dominava a maioria da jovem classe pensante.
Antero de Quental
Antero de Quental, nasceu no ano de 1842, e faleceu em 1891. Poeta e filósofo português, introdutor do socialismo em Portugal, Antero formou-se em Coimbra antes de partir para Paris, onde viveu uma experiência fracassada como tipógrafo. Procurava polémicas, como a da “Questão Coimbrã” com António Feliciano de Castilho a partir de seu opúsculo “Bom senso e bom gosto”, ou na questão das Conferências do Casino, em que apresentou sua “Causa da decadência dos povos peninsulares”, Antero cultivou inicialmente uma poesia (Odes Modernas, 1863) antes de se dedicar ao soneto, que cultivou ao longo da vida, desenvolvendo neles suas ideias religiosas e filosóficas. A publicação dos sonetos Completos, em 1866, com prefácio de Oliveira Martins, consagram-no como o grande poeta da Geração de 1870. Uma vida complicada por problemas físicos e psicológicos acabou levando-o ao suicídio, num jardim de Ponta Delgada, gesto emblemático que contribuiu para mitificá-lo com a expressão de Eça: “Um génio que era um santo.”
sábado, 1 de outubro de 2016
Análise do poema "Não Te Amo"
O assunto do poema “Não te amo” de Almeida Garrett é a
oposição entre o amor e o desejo. Na primeira estrofe o sujeito poético
evidencia que não tem amor de alma pela mulher, mas sim desejo. Esta oposição
está na origem do dilema que atormenta o sujeito poético, aumenta a sua
indefinição. Na segunda estrofe está expressa a ideia de que a vida do sujeito
poético não é movida pelo amor espiritual, usando então uma hipérbole “E a vida
– nem sentida/A traga eu já comigo.”
Na terceira estrofe, encontramos a presença da mulher
demónio, ou seja, desperta no sujeito um amor carnal, capaz de o dominar, mas
por mais paixão que sinta, nunca chega a ser amor. No segundo verso da segunda
estrofe, há uma dupla adjetivação que desta a natureza contraditória do sujeito
poético. Na quarta e quinta estrofe, o sujeito poético não consegue resistir à
mulher e diz que se a amasse seria algo forçado. Depois da quinta estrofe, há
uma divisão na composição poética. A sexta estrofe, ou seja, a última estrofe
funciona como uma autocrítica, em relação de o Eu lírico querer tanto esta
mulher, mas não a amar. Há dois verbos cujos
significados jogam os lados deste conflito: amar e querer. Amar do lado da alma e querer do lado do corpo. E é neste
jogo reiterado ao longo do poema que se estende a insistente afirmação de que
entre este eu e este tu não se passou do plano terreno ao plano divino, não se
atingiram as sublimes alturas do amor e se rasteja em terror e infâmia num
querer que enfurece o sangue, mas deixa a alma morta.
Este poema faz lembrar as cantigas de amor, refira-se o
paralelismo na construção do poema e o registo corrente e que sublinham as
características românticas. Do Romantismo referir ainda o tom confessional e intimista; alusão a
elementos mórbidos como jazigo,
aziaga estrela, má hora, perdição, feitiço azado, medo, terror;
características da poesia de alcova; liberdade/irregularidade métrica; um certo
tom teatral; excesso passional; sentimento de culpa; autocrítica própria do
sujeito poético;
- Antítese- intensificando a contradição entre Amar e Querer;
- Dupla Adjetivação;
- Apóstrofe;
- Pergunta de retórica;
- Paradoxo;
- Hipérbole.
Não Te Amo- Almeida Garrett
E eu n’alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
Folhas Caídas.
É uma colectânea de poesias escritas por Almeida Garrett e publicada na fase final da sua vida, em Abril de 1853, um ano antes de morrer, em 9 de dezembro de 1854. Segundo diversos estudiosos, Garrett escreve a obra como forma de demonstrar seu amor a Rosa Montufar (a viscondessa da Luz).
São inúmeras as marcas românticas presentes nos poemas desta colectânea: a)Tratamento do tema dicotomia amor/paixão; b)Confessionalismo literário; c)Defesa do mito de Rousseau do bom selvagem – crença na corrupção inerente ao homem social que se opõe à sua bondade inata;
d) Apologia da liberdade de sentir/amar sem quaisquer constrangimentos sociais – ex: o casamento; e) Dicotomia mulher-anjo / mulher fatal; f) Concepção de amor como força avassaladora, tirana e irracional; g) Presença de alguns temas e formas populares – ex: a pesca; utilização da quadra (quatro versos numa estrofe) e da redondilha maior e menor (sete e cinco sílabas métricas).
A linguagem do autor é simples, por vezes coloquial e familiar, não sendo, no entanto, vulgar ou descuidada. O estilo é hiperbólico, exclamativo, socorrendo-se de inúmeros artifícios como:
- Metáfora – Pescador da barca bela / onde vais pescar com ela…-;
- Interrogação rétorica– Anjo és tu ou és mulher?-;
- Adjetivação expressiva - e só te quero / de um querer bruto e fero / que não chega ao coração…;
- Antitese – Não te amo, quero-te!
- Exclamação – Olha bem estes sítios queridos! / vê-os bem neste olhar derradeiro!…;
- Personificação – olha o verde do triste pinheiro, entre muitos outros.
Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Folhas_Ca%C3%ADdas
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
O Romantismo.
O romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa que durou por grande parte do século XIX. Caracterizou-se como uma visão de mundo contrária ao racionalismo e ao iluminismo e buscou um nacionalismo que viria a consolidar os estados nacionais na Europa.
Inicialmente apenas uma atitude, um estado de espírito, o romantismo toma mais tarde a forma de um movimento, e o espírito romântico passa a designar toda uma visão de mundo centrada no indivíduo. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. Se o século XVIII foi marcado pela objetividade, pelo iluminismo e pela razão, o início do século XIX seria marcado pelo lirismo, pela subjetividade, pela emoção e pelo eu.
As origens do movimento são de diversa natureza, podendo falar-se de origens sociais, politicas, filosóficas e literárias.
- Origens Sociais: o desenvolvimento de um novo gosto, diferente do gosto clássico, prende-se ao desenvolvimento da burguesia e ao aumento do número de leitores de origem burguesa.
- Origens Politicas: paralelamente às transformações sociais, ocorreram transformações politicas no sentido da construção de regimes mais democráticos, em Inglaterra( Revolução Inglesa de 1688) e na França- Revolução Francesa, surgida no final do século XVIII- uma revolução em que se deu grande importância ao Homem, ao individuo à liberdade, à igualdade e fraternidade entre os cidadãos. Ao entusiasmo revolucionário de cariz liberal suceder-se-ia, no entanto, o desencanto perante as promessas não cumpridas, como foi o caso de muitos românticos europeus, como Almeida Garrett.
- Origens Filosóficas: prendem-se com o desenvolvimento das filosofias idealistas na Alemanha, com Fichte e Kant.
- Origens Literárias: os romantismos europeus vão entroncar nos pré-românticos e, em especial, no movimento alemão do "Sturm und Drang'' (Tempestade e Ímpeto).
- no domínio narrativo: o romance histórico(misto de História e de ficção; o romance psicológico(misto de psicologia e de ficção); o romance contemporâneo, de costumes( misto de sociologia e de ficção.)
- no domínio da poesia, do lirismo: a poesia intimista, a poesia filosófica e a metafisica e, sobretudo, o poema em prosa.
- no domínio dramático: a tragédia e a comédia clássicas foram substituídas pelo drama, misto de sublime e de grotesco.
Inovou a linguagem e o estilo. Apostou numa linguagem coloquial, simples, um estilo digressivo e solto, com mistura de níveis de língua, com enriquecimento lexical nos domínios da introdução de neologismos e estrangeirismos, e um notório enriquecimento nos domínios da adjectivação e da metáfora.
O Romantismo em Portugal.
Iniciou-se com Almeida Garrett, em 1825. Durou cerca de 40 anos terminando por volta de 1865. A primeira geração do romantismo em Portugal vai de 1825 a 1840. Os principais autores são Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Antônio Feliciano de Castilho. A segunda geração, de 1840 a 1860, tem como principais autores, Camilo Castelo Branco e Soares de Passos. A terceira geração, pré-realista, de 1860 a 1870, aproximadamente, teve como principais autores Júlio Dinis e João de Deus.
Na temática da poesia e da ficção, a par do amor platónico, aspiração à mulher-anjo abundam os sentimentos fortes, carregados- ciúme, vingança, desespero- a exigirem o estilo exclamativo. O Romantismo constitui uma tomada de consciência, a conquista dum senso crítico novo aplicado aos fenómenos da cultura. Começa-se a relacionar o Homem com o meio a que pertence, a época de que é produto.
Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo#Romantismo_em_Portugal
CARDOSO, Elsa e SILVA, Pedro, 2016, Viagens Literatura Portuguesa 11º ano, Porto: Porto Editora.
Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo#Romantismo_em_Portugal
CARDOSO, Elsa e SILVA, Pedro, 2016, Viagens Literatura Portuguesa 11º ano, Porto: Porto Editora.
O Contexto Político e Social do Romantismo Português
O nosso
movimento romântico surgiu no contexto das lutas liberais que, a partir de
1820, constituíram o acontecimento que marcou definitivamente a nossa História
política e social do século XIX e o ponto de viragem para a modernidade.
O eco das
ideias da Revolução Francesa chegara já aos nossos pré-românticos, deixando
marcas na sua poesia, principalmente, na poesia e vivências da Marquesa de
Alorna e Bocage.
Posteriormente,
na sequência das Invasões Francesas, de 1807-1810, as ideias liberais começaram
a difundir-se e a ganhar adeptos.
Em 1820,
deu-se uma revolta militar no Porto, revolta de carácter liberal, que levou a
eleições para as Cortes no ano seguinte e que faz regressar o rei a Portugal.
Em 1822 é jurada em Lisboa a 1ª Constituição liberal. Nesse mesmo ano, o
herdeiro real, D.Pedro IV proclama a independência da colónia brasileira, de
que se tornou Imperador com o nome de Pedro I.
Em 1823,
eclode a Vila-Francada, movimento militar reaccionário, liderado pelo Infante
D.Miguel, irmão de D.Pedro. D.Miguel,
vitorioso do golpe, suspende, então, a Constituição e encerra as Cortes. Em
1824, o mesmo D.Miguel lidera novo movimento reacionário, destinado a destituir
seu pai, D.João VI.
É a altura de D. Pedro, herdeiro legítimo do trono de Portugal, renunciar ao seu título de Imperador do Brasil e vir para Portugal. Como esta era ainda menor, D. Miguel é designado regente, tendo jurado a Carta Constitucional, que o seu irmão outorgara. Pouco depois, porém, dissolveu as Cortes e fez-se nomear como rei absoluto; na sequência, novas perseguições aos liberais. Inicia-se então uma Guerra Civil, opondo absolutistas, sob comando de D. Miguel e apoiados pela Igreja e liberais, liberados por D. Pedro. A guerra prolonga-se por três anos, deixando profundas feridas entre os que a fizeram e a sofreram.
Não foi fácil, porém, o período que se seguiu, nomeadamente com as lutas politicas havidas entre os defensores da Carta Constitucional.
No entanto, era já o final do Antigo Regime e a vitória dos novos tempos, marcados pelo poder da burguesia liberal vitoriosa. Importantes medidas foram tomadas, como a abolição dos morgadios e dos direitos senhoriais, o confisco dos bens da Igreja e a extinção das ordens religiosas.
A partir de 1851, teve lugar um movimento militar anticabralista, liderado pelo Duque de Saldanha, e incentivado por algumas grandes personalidades liberais, como Alexandre Herculano, em cuja casa, de resto, a revolução foi preparada.
Foi justamente no contexto das lutas liberais e pela consolidação da revolução liberal que se desenvolveu entre nós o Romantismo que nasceu em parte no exílio, com a chamada geração dos Românticos Vintistas.
Fonte: CARDOSO, Elsa e SILVA, Pedro, 2016, Viagens Literatura Portuguesa 11º ano, Porto: Porto Editora.
Almeida Garrett
João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu no Porto a 4 de fevereiro de 1799 e faleceu em Lisboa a 9 de dezembro de 1854. Foi um escritor dramaturgo romântico, orador, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português.
Almeida Garrett pode definir-se como o escritor que
representa um tempo que é sobretudo de transição, entre um Neoclassicismo com
marcas visíveis do pensamento iluminista e um Romantismo que Garrett tratou de
difundir entre nós.
Tal como acontece com outros escritores da nossa Literatura
(Camões e Bocage, por exemplo), Garrett constitui uma personalidade já de si
com uma dimensão verdadeiramente literária, no sentido em que é dotado de uma
contextura psicológica peculiar.
Garrett convida a uma espécie de fusão entre a representação
literária de temas e atitudes românticas e a vivência, no quotidiano, desses
temas e atitudes – ainda que eventualmente seja difícil distinguir o que nela
existe de autêntico do que é encenado.
O carácter multiforme da psicologia garrettiana muito tem que
ver com uma vida literária que se desenrola sob o signo da mudança: o
Neoclassicismo ao Romantismo, Garrett experimente soluções experimenta soluções
estéticas inovadoras, sem nunca postergar por inteiro, é bom notar, a lição
neoclássica que fora da sua formação.
O Garrett romântico manifesta-se seduzido pelos valores do
Romantismo, o jovem poeta exilado fixa no prólogo do Camões princípios que regem uma criação literária dominada por
procedimentos tipicamente românticos: a altiva consciência da inovação, a
rejeição das regras, o primado do sentimento, o culto da independência, nos
planos estéticos e político.
Fontes:
CARDOSO, Elsa e SILVA, Pedro, 2016, Viagens Literatura Portuguesa 11º ano, Porto: Porto Editora.
quarta-feira, 8 de junho de 2016
Magro, de olhos azuis, carão moreno.
- Magro, de olhos azuis, carão moreno,
- Bem servido de pés, meão na altura,
- Triste de facha, o mesmo de figura,
- Nariz alto no meio e não pequeno;
- Incapaz de assistir num só terreno,
- Mais propenso ao furor do que à ternura;
- Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
- De zelos infernais letal veneno;
- Devoto incensador de mil deidades
- (Digo, de moças mil) num só momento,
- E somente no altar amando os frades,
- Eis Bocage, em quem luz algum talento;
- Saíram dele mesmo estas verdades,
- Num dia em que se achou mais pachorrento.
- Esta composição poética é um soneto pois apresenta duas quadras e dois tercetos. O esquema rimático é: abba/ abba/ cdc/ dcd. A rima é emparelhada, interpolada e cruzada.
- Estrutura interna: Na primeira quadra o sujeito poético faz a sua descrição fisica e na segunda quadra e no primeiro terceto faz o seu retrato psicológico. No segundo terceto o sujeito poético revela a sua identidade ( ''Eis Bocage'') e a razão de estar a escrever este poema.
Características Neoclássicas e Pré- Românticas
Características Neoclássicas:
- Carpe diem (o desejo de aproveitar a vida, a juventude);
- Locus Amoenus (observa a natureza como um lugar agradável);
- Rigor formal ( obediência à rima e à métrica do poema);
- Mitologia greco-latina (presença de elementos da mitologia);
Características Pré- Românticas:
- Emotividade (expressão da emoção em oposição à razão que o persegue);
- Individualismo e egocentrismo (expressos por meio da autopiedade)
- Religiosidade ( nos seus últimos poemas, Bocage arrepende-se de ter desrespeitado a igreja).
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