quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Amor de Perdição.

  • Título e Subtítulo

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Amor de Perdição tem como subtítulo Memórias de uma família. De facto, o autor narra episódios da família Correia Botelho, ou seja, muitas das situações vividas pelo escritor e pela sua própria família. Os seus fundamentos são históricos, embora não se possa determinar com exatidão até onde vai a verdade histórica e onde começa a fantasia. Simão Botelho existiu na realidade. Por detrás dele, tio de Camilo, o próprio escritor apaixonado e desequilibrado.
  • Espaço e tempo

 O espaço físico, em Amor de Perdição, conhece um afunilamento progressivo à medida que a acção trágica se encaminha para o seu clímax e, posteriormente, para o desenlace final. Assim, de um espaço amplo exterior onde as personagens evoluem livremente, passa-se para um espaço fechado e reduzido onde as personagens são encarceradas. Este espaço reduzido simboliza a prisão da própria vida, visto que estão enclausuradas na dimensão da própria tragédia.
O tempo da obra é caracterizado como diegético. Na introdução, abarcam-se 40 anos, são os antepassados de Simão.
A acção decorre em 6 anos (1801 - 1807):
· 1801, Domingos Botelho corregedor em Viseu, Simão tem 15 anos.
· 1803, Teresa escreve uma carta a Simão, revelando as intenções de seu pai de a enviar para um convento.
· 1804, Simão é preso.
· Prisão de Simão de 1805 a 1807. Antes de embarcar para o degredo, fica 20 meses na prisão.
· 17/3/1807, Simão parte para a Índia.
· 28/3/1807, ao romper da manhã, Simão morre.
· tempo do discurso (forma como o narrador elabore o seu relato).
O narrador segue a cronologia acima apresentada, narrando de forma cronológica os acontecimentos.
  • Linguagem, estilo e estrutura da obra

O livro de Camilo é rico em cartas entre Simão e Teresa. O discurso epistolar contém uma linguagem emotiva, apelativa, exclamativa e expressiva. As cartas têm frequentemente frases curtas e vocativos, como “Não receies nada por mim, Simão.”
O livro também é rico em diálogos e adjetivos. Os adjetivos estão presentes em todas as fases do romance: “faca pavorosa”, “luz mortiça da lâmpada”, “amor discreto e cauteloso”.
A frase “Amou, perdeu-se e morreu amando” pode ser utilizada para sintetizar a obra Amor de Perdição da seguinte maneira: “Amou” representa a introdução da obra, onde faz referência a dados biográficos do Camilo e a apresentação global do infortúnio de Simão Botelho. “perdeu-se”, correspondendo ao desenvolvimento da obra que vai do capítulo I até ao capítulo XX. Ocorrem vários factos como a paixão entre Teresa e Simão. Por fim, “morreu amando”, reenvia para o desfecho da obra com a morte trágica de Simão e o suicido de Mariana.
  • Narrador e Narratário.

Podemos caracterizar o narrador como heterodiegéitico, é apenas considerado narrador e não personagens pois este não participa na ação acabando por recorrer á terceira pessoa gramatical. É omnisciente pois tem conhecimento de tudo o que se passa com a história e com as personagens.  




Camilo Castelo Branco


Resultado de imagem para camilo castelo brancoCamilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa a 16 de março de 1825. Filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco e de Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira, Camilo foi registado como filho de mãe incógnita, pelo que se diz, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de tão humilde condição. A morte do pai obrigou-o a ir viver para Trás-os-Montes. Como era uma criança sensível e muito inteligente, sofreu grandes perturbações com todos os acontecimentos da sua infância. Ao longo da sua existência, revelou-se um falhado nos estudos e nos amores. As vicissitudes da vida fazem-lhe despoletar a ideia de que a fatalidade e a desgraça são destinos a que não pode escapar. Foi um profissional das letras multifacetado, cuja obra o posicionou com uma das figuras mais eminentes da literatura portuguesa. Apaixona-se por Ana Augusta Vieira Plácido. Ana Plácido era uma mulher casada mas Camilo consegue seduzi-la. Fogem os dois mas acabam por serem capturados e julgados pelas autoridades acabando por serem enviados para a Cadeia da Relação do Porto, onde Camilo escreve a obra Amor de Perdição. O caso de Ana Plácido e de Camilo Castelo Branco emocionou a opinião pública, pelo seu conteúdo tipicamente romântico de amor contrariado. Suicidou-se a 1 de junho de 1890, na freguesia de Ceide, Vila Nova de Famalicão.

Fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Camilo_Castelo_Branco#Bibliografia

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Um Auto de Gil Vicente.

Um Auto de Gil Vicente escrito entre 11 de junho e 10 de julho em 1838. Marcou a sua opção por uma dramaturgia nacional de inspiração romântica que, anos mais tarde, teria a sua mais elevada realização artística em Frei Luís de Sousa. Um Auto de Gil Vicente é um drama histórico, em três atos, com a ação a decorrer na corte de D.Manuel para celebrar a partida da Infanta D. Beatriz para Saboia, onde casaria com Carlos III. Gil Vicente prepara a representação da peça Cortes de Júpiter e é em torno deste acontecimento que se desenrola a trama, insinuando os amores de Bernardim Ribeiro e da Infanta D. Beatriz.
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A peça estreou-se a 15 de Agosto do mesmo ano mas só em 1841 é que foi publicada. A obra apresenta figuras históricas em momentos de grandeza espiritual. 
Garrett, o autor da obra, na 1ª edição da peça juntou a declaração: " [...] Eu não quis só fazer um drama, mas sim um drama de outro drama e ressuscitar Gil Vicente a ver se ressuscitava o teatro".
A ação decorre na corte de D. Manuel, tendo como polos de atuação a figura de Gil Vicente e a de Bernardim Ribeiro. 
As personagens constituem três grupos:
  • As que têm conhecimento do amor entre Bernardim Ribeiro e a Infanta D. Beatriz (que é o caso de Paula, Pêro Sáfio e D. Manuel);
  • As que suspeitam (que é o caso dos embaixadores italianos);
  • As que ignoram (que é o caso do resto das personagens). 
As personagens que fazem parte desta peça são: 
  • D. Manuel; 
  • Infanta D. Beatriz;
  • Bernardim Ribeiro;
  • Gil Vicente;
  • Pêro Sáfio;
  • Paula Vicente;
  • Conde de Vila Nova;
  • Garcia de Resende;
  • Barão de Saint- Germain;
  • Dr. Jofre Passeiro;
  • Chatel;
  • Bispo de Targa;
  • Mordomo-mor do rei D. Manuel;
  • Um Pajem;
  • Dona Inês de Melo;
  • Joana do Taco.
Paula Vicente favorece os encontros clandestinos entre o poeta Bernardim Ribeiro e D. Beatriz. Acontece que, Paula Vicente também está apaixonada pelo poeta, mas este amor não é correspondido. Beatriz depende desta sua confidente, a única testemunha do momento de sofrimento por que está a passar. Bernardim é caracterizado como poeta e louco. Esta apaixonado pela Infanta a quem dedica o seu livro Saudades. Em termos de desenlace não há qualquer alteração à situação que se explicitara inicialmente. Perante esta realidade, o desejo de morte como libertação para o "mal de amor" é expresso pelos amantes e sublinhado pelos sucessivos desmaios de Beatriz. 
As referências a aspetos históricos e culturais aparecem ao longo do texto e pintam uma moldura histórica. 

O teatro português até ao século XIX

Houve dois momentos em que as estruturas socioeconómicas e politicas se mostraram particularmente propícias à eclosão do fenómeno teatral. O primeiro corresponde aos reinados á época áurea dos Descobrimentos, da afirmação de Portugal na Europa, nos reinados de D.Manuel e de D. João III, do grande afluxo de riquezas do exterior e do consequente domínio da corte na vida nacional.